Por J. Filardo, M⸫M⸫

O estudo das origens da Maçonaria vem evoluindo, desde os fantasiosos textos que ainda poluem a atmosfera maçônica, onde delirantes “historiadores” afirmam absurdos, tais como “Adão foi o primeiro maçom…”, “A Maçonaria começou no antigo Egito…” e outras suposições risíveis que expõe os maçons ao ridículo.

Somente a partir de 1884 o estudo das origens da Maçonaria passou a ter um mínimo de seriedade quando nove maçons (Sir Charles Warren, William Harry Rylands, Robert Freke Gould, Rev. Adolphus Frederick Alexander Woodford, Sir Walter Besant, John Paul Rylands, Major Sisson Cooper Pratt, William James Hughan e George William Speth) fundaram a Loja de Estudos Quatuor Coronati Nº 2076 em Londres com um compromisso de pesquisar documentos existentes e não difundir invencionices e suposições.

Mesmo assim, enquanto maçons ingleses, eles se ativeram à versão “oficial” da origem da Maçonaria Especulativa, imposta pela Grande Loja Unida da Inglaterra e amplamente divulgada, mesmo considerando-se sua relativa imprecisão quanto aos fatos.

Essa versão oficial reclamava para a Grande Loja de Londres e Westminster de 1717 a prerrogativa de ter inaugurado a Maçonaria Especulativa, o que é absurdo, vez que a Maçonaria já nascera especulativa na Escócia um século antes da invenção do clube GL de Londres, como vem sendo revelado por historiadores independentes e não-maçons desde a segunda metade do século XX.

O que os ingleses podem certamente reivindicar é ter organizado uma Grande Loja, uma figura inexistente no panorama maçônico original, organizada em formato de clube, e tinha o objetivo de reprimir as lojas jacobitas (escocesas) existentes no Reino Unido, lojas que apoiavam o direito divino dos reis e a dinastia Stuart, os verdadeiros herdeiros do trono, contra o usurpador William de Orange  e a dinastia Hanoveriana, na pessoa de George I,  que eventualmente assumiria o Reino após a morte da Rainha Ana, a última Stuart a reinar no Reino Unido.

No início do século XVIII, a Inglaterra vivia uma febre de “clubismo”, onde se organizavam clubes de todos os tipos que refletiam a mentalidade preconceituosa dos ingleses na época. Entre outras coisas, os clubes discriminavam as mulheres, usavam a balotagem (bolas brancas e bolas pretas em votação secreta) e seguiam uma rotina de reuniões baseada nas reuniões das guildas ou conselhos corporativos medievais, o que deu origem ao ritual das lojas maçônicas atuais.

“A formação da primeira Grande Loja da Maçonaria Especulativa em 1717 coincidiu com uma súbita e quase explosiva multiplicação de clubes. Eles eclodiram como uma erupção em toda a Inglaterra. Em cada vila ou cidade havia pelo menos uma taberna ou pousada e um ou mais clubes certamente se reuniriam nela. Havia um número espantoso de categorias de clubes, desde clubes para idosos da alta igreja até as extravagâncias mais exteriores daqueles excêntricos que na França e na Itália renderam aos viajantes o apelido de “ingleses loucos”: clubes políticos, clubes científicos (a Royal Society tinha um), clubes de apostas, clubes de garrafas, clubes de tiro, clubes de música, clubes de café, clubes de companheiros ímpares,  clubes para homens gordos, carecas, anões, homens bicados por galinhas, homens de um olho só, clubes de seguros, clubes funerários, clubes masculinos e femininos, clubes que eram uma espécie de igreja leiga, clubes para fumantes de ópio, etc., etc. Quando a primeira das novas Lojas da Maçonaria começou a chamar a atenção, a população as considerou uma nova espécie de clube. (Encyclopedia Masonica)

Entre os clubes fundados em Londres estava o Hell’s Fire Club (Clube Fogo do Inferno), um clube de putaria irreverente frequentado pela classe alta londrina, entre os quais o Duque de Wharton e John Montagu que, inexplicavelmente, viriam a ser Grãos-Mestres da Grande Loja de Londres, contrariando a noção de que os maçons deveriam ser livres e de bons costumes. Diga-se de passagem que outro maçom famoso, Benjamim Franklin também costumava frequentar os lupanares dos Clubes do Fogo do Inferno.

O Duque de Wharton, por exemplo, era o maior cafajeste da sociedade londrina em 1717, o que não impediu que fosse eleito Grão Mestre em 1723 quando a Grande Loja de Londres e Westminster foi efetivamente fundada. Sua gestão durou muito pouco e tendo sido expulso, Wharton escreveu e publicou um texto ridicularizando a Maçonaria, onde descrevia uma suposta Ordem chamada Antiga e Nobre Ordem dos Gormogons.

Vejamos o verbete na Wikipedia:

Gormogons – A Antiga Ordem Nobre dos Gormogons foi uma sociedade secreta do século 18  formada pelo maçom expulso Philip Wharton. Não deixou registros ou realizações que indicassem seu verdadeiro objetivo e propósito. Dos poucos artigos publicados pelo grupo, acredita-se que o objetivo principal da sociedade era levar a Maçonaria ao ridículo. Durante sua breve existência, ela foi acusada de ser um  grupo de tendência jacobita, talvez porque o primeiro Grão-Mestre conhecido (ou Volgi Ecumênico) foi o Cavaleiro Andrew Michael Ramsay de Ayr, Escócia, um jacobita de fortes convicções. Também parece ter sido uma organização de caridade, pelo menos de acordo com seus estatutos sobreviventes. Há também alguns distintivos pendentes sobreviventes, com seu sinal.

Mas, voltando ao assunto em tela, temos que:

O Clube chamado Grande Loja de Londres e Westminster, adotou os graus e os objetivos da Maçonaria, uma sociedade iniciática organizada na Escócia no século XVII, quando as lojas de pedreiros escocesas começaram a receber entre eles alguns cavalheiros partidários da dinastia Stuart. Os cavalheiros maçons escoceses organizaram uma Ordem iniciática de fundo rosacruz, cabalístico e hermético, que serviria de fachada para uma ação política voltada para dar suporte ao rei James VI da Escócia quando este assumiu os tronos da Inglaterra, Irlanda e Escócia como James I.

Aquela maçonaria nasceu especulativa dentro de lojas de pedreiros operativos e cresceu graças a lojas militares, instaladas em regimentos leais aos reis Stuart que se espalharam por todo o Reino Unido. Os maçons escoceses defendiam o direito divino dos reis e quando o Parlamento inglês usurpou o trono do último Stuart, as lojas passaram a defender o direito de James II ao trono e surgiu então a chamada Maçonaria Jacobita.

O Clube Inglês chamado Grande Loja de Londres e Westminster foi organizado pelo Parlamento Inglês para reprimir as lojas jacobitas que apoiavam o herdeiro Stuart e também para impedir que católicos ingressassem na Maçonaria. As lojas jacobitas haviam se envolvido em um complô apoiado pela Suécia que visava derrubar o rei George I e reinstalar James II no trono.

Nesse contexto, temos os acontecimentos pesquisados por Marsha Schuchard que pesquisou extensamente a Maçonaria e publicou o excelente livro “Masonic Rivalries and Literary Politics – From Jonathan Swift to Henry Fielding”,  de onde retiramos o capítulo relativo à diáspora maçônica que pode ser lido clicando no link abaixo:

JAMES VII E II E A DIÁSPORA JACOBITA-MAÇÔNICA (1685-1691)