J. Filardo
Em Maçonaria, o ritual é o esqueleto, a simbologia é a carne e a fraternidade é a alma. Tudo isso para desfrutar a liberdade e promover a igualdade.
Respiramos simbologia, e o maçom precisa desenvolver a capacidade de interpretar o que lê ou visualiza em termos do código que aprendemos em nosso dia-a-dia nas lojas.
Aprendemos, desde o momento de nossa iniciação, que tudo à nossa volta está envolto pelo véu do simbolismo, que tudo tem um significado, que tudo é passível de interpretação. Pouco a pouco, o pesado véu vai sendo afastado e adentramos um mundo totalmente diferente daquela rotina a que estamos habituados.
Naturalmente, novos véus, mais diáfanos se apresentam diante de nós em nossa senda, mas, aparelhados com o ferramental adequado, progredimos e refinamos nossa capacidade de interpretação.
Temos que a interpretação da simbologia deve ser uma segunda natureza do maçom. E considerando a presença dos símbolos em todas as manifestações culturais e em seus “produtos”, realizamos um exercício de análise literária com enfoque maçônico.
Escolhemos como nossa “vítima” nada menos que o maior escritor moderno quem, pessoalmente considero o maior escritor da história da humanidade, James Joyce.
Com exceção de “Finnegans Wake”, seu terceiro e último livro que é impossível de ser traduzido e até mesmo de ser lido por alguém que não seja nativo de um país de língua inglesa, temos uma obra deliciosa, divertida, engraçada, surpreendente que desenha o universo a partir da narrativa e um único dia na vida do Irmão Leopold Bloom, na Dublin do início do século XX.
O que aconteceu foi que Joyce revolucionou a maneira de escrever livros, e o público estava acostumado como a produção “água com açúcar” de Jane Austen e outros autores, e não estava preparada para o texto espontâneo, jocoso e subversivo de Ulysses. Para este público, sim, o livro era “difícil” e escandaloso. Tanto isso é verdade, que foi classificado como pornografia e teve sua entrada proibida nos Estados Unidos.
Ninguém estava preparado para a narração detalhada da personagem sentado no vaso da privada defecando, por exemplo. E com a descrição da sensação, a narração pormenorizada do evento. Ou da narrativa detalhada de uma relação sexual do ponto de vista da mulher, com todos os detalhes, ou a masturbação disfarçada, brilhantemente descrita em um texto saborosíssimo.
É claro; depois de inventada, a roda pareceu a todos uma solução incrivelmente simples e lógica. E todos os autores passaram a escrever como Joyce. Dessa forma, um leitor que decida enfrentar o dragão nos dias atuais certamente se perguntará sobre os motivos que levaram os críticos a dizer que o livro era difícil.
Um dos problemas, entretanto, na abordagem deste ícone da literatura é o relativo desconhecimento da obra dele, vez que os rótulos “difícil”, “hermética”, “complicada” criaram barreiras, mesmo entre pessoas geralmente acostumadas a consumir o produto cultural literatura.
Esta circunstância nos obriga a traçar um panorama da vida e obra do autor, antes de nos debruçarmos sobre o objetivo de nosso trabalho, qual seja demonstrar aspectos simbólicos de natureza maçônica na obra do autor, pois análise literária tem tudo a ver com interpretação de símbolos.
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