O Grande Oriente da França contra a escalada do extremismo de direita (Marine Le Pen, Zemmour etc.)

Tradução J. Filardo

Por Redação 450.fm

Georges Sérignac – Grão-Mestre do Grande Oriente da França (GODF)

Grande Oriente da França:  “Todo discurso antirrepublicano deve ser combatido”

Em entrevista ao “Le Monde”, Georges Sérignac, o grão-mestre da principal obediência maçônica francesa, denuncia o significado das ideias de extrema-direita no debate político.

Veterinário de profissão, Georges Sérignac foi eleito em janeiro, aos 67 anos, Grão-Mestre do Grande Oriente da França (GODF), principal obediência maçônica francesa.  Ele defende o secularismo republicano, “instrumento de emancipação e liberdade”, e “lamenta a regressão” de Jean-Luc Mélenchon a esse respeito.

Qual será o papel do Grande Oriente na campanha eleitoral de 2022?

O Grande Oriente não é um partido político, nem um lugar de militância ou ativismo político.  O seu papel atual é o seu papel histórico: um laboratório de ideias que, então, tenta desenvolver um pensamento à sua maneira, por uma capilaridade muito forte no tecido do país. Temos mais de 1.370 lojas, com uma média de 30 a 40 membros.  Estes têm uma família, uma atividade profissional, um compromisso político … as ideias são difundidas assim.  Em loja, trabalhamos sobre a questão social, debatemos, trocamos ideias. Aos poucos, surge e se desenvolve um pensamento progressista que busca fazer avançar as coisas. Não haverá instruções de voto ou de posicionamento partidário.  Com uma exceção: a exclusão de qualquer pensamento – ou candidato – de extrema direita, racista, xenófobo.

Se Marine Le Pen (fascista) ou Eric Zemmour (fascista) estiverem presentes no segundo turno, você pedirá que votem contra eles?

Esta não é a nossa maneira de fazer as coisas. Mas voltaremos aos nossos princípios, explicaremos incansavelmente do que é feita a República, o que é a República.  Teremos uma posição muito clara.  Durante a campanha, os candidatos serão convidados a discutir conosco.  Excluindo aqueles da extrema direita, como as duas pessoas que você citou.

Como você avalia a atual atmosfera política?

Existe um exagero. Estamos na era do choque, como Christian Salmon descreve em seu livro [L’Ere du clash, Fayard, 2019].  Falamos muito pouco sobre os assuntos básicos que são as reais preocupações, como justiça social, emprego, saúde, o valor do salário mínimo.  No debate público, há confrontos sobre temas monomaníacos, quase obsessivos, como o Islamismo. O ambiente político ganharia muito ao abordar as reais preocupações dos franceses, tais como novas propostas de soluções alternativas, sejam elas de Xavier Bertrand ou de Jean-Luc Mélenchon (candidatos de esquerda). Não estou dizendo que eles não fazem isso, mas não são significativos ou mesmo audíveis no burburinho do debate.

Quem é o responsável por isso?  A mídia ou os políticos?

Não se trata de atribuir pontos bons e ruins. Mas há uma evolução geral da sociedade, com o progresso da comunicação. Veja o que Guy Debord escreveu há cinquenta anos em La Société du spectacle… A imprensa, quando ela apresenta um polemista revisionista, negacionista, defensor de Pétain (francês fascista que se aliou a Hitler), sob o pretexto de que ele “diz coisas” que uma certa parte da população pensaria – o que não está absolutamente provado – há obviamente uma responsabilidade …

Fachada do GOdF em Paris 9e rue Cadet. Interior iluminado.

Publicado em https://450.fm/2021/10/05/presidentielle-2022-le-grand-orient-de-france-contre-la-surenchere-de-lextremisme-de-droite-marine-zemmour-etc