
1. Basta querer ler. Pode ler sem medo, é um livro delicioso, prazeroso feito café no fogão a lenha. Não é difícil e sim rico e complexo, o que é uma outra coisa. É a estrutura e não o conteúdo que representa a maior dificuldade (ver item 2). Mas leia em voz alta para dar vida ao texto, o que facilitará sua compreensão, é o próprio Rosa que diz isso:
“Quando um leitor desentender um trecho, deve relê-lo em voz alta, obedecendo rigorosamente à pontuação. Não procure correr atrás do enredo. Cada palavra perdida faz falta e pode afetar a compreensão global do texto.”
(citado por Vicente Guimarães em Joãozito: a infância de Guimarães Rosa. São Paulo: Panda Books, 2006. 2.ed. p. 15)
2. O livro não é dividido em capítulos, não tem sequer um espaçamento maior entre um parágrafo e outro, vem na forma de um bloco único. É uma espécie de longa conversa entre um ex-jagunço (agora fazendeiro) e um doutor (cuja fala nunca aparece). Mas tem uma manha: no início o narrador conta tudo de forma embaralhada, sem ordem cronológica. As primeiras cem páginas do livro (variando segundo a edição) são uma espécie de pântano narrativo (a maioria das pessoas que abandonam a leitura o fazem quando estão tentando atravessá-lo). Rosa fez isso de propósito, pois é nessa parte inicial que ele apresenta os temas, as grandes questões que irão atravessar toda a narrativa. Ele quer que o leitor preste atenção nisso. Tenha paciência que logo depois a história vai ficar mais alinhada e, portanto, mais fácil de ler.
3. Que nem um sertanejo, não tenha pressa. A história é muito interessante, sem dúvida, mas no GSV é a maneira de contá-la e o que se aprende com ela que importam mais; o próprio Guimarães Rosa dizia que o leitor não deveria “sair correndo atrás da história” (ver folha Os três sertões), ou seja, antes de se importar com a trama, deveria prestar atenção no conteúdo e na forma. Você vai perceber que por detrás de alguns “causos” e provérbios que parecem sertanejos há questões filosóficas e metafísicas importantes: o Bem e o Mal (por ex. a questão da mandioca brava e da mandioca boa no par. 6), Deus e o Diabo, o Acaso e o Destino …
4. A máxima para ler o livro é a fala de Riobaldo, o narrador e protagonista: “Tudo é e não é” (par. 7). Cada história, cada nome, cada ação ou discurso, tem sempre mais de um significado. Aos poucos você vai percebendo, fique tranquilo(a). Embora seja escrito em prosa, é uma prosa que exige atenção poética, sempre atenta à ambiguidade, aos diferentes sentidos possíveis.
5. Leia sem parar. Não vá ao dicionário (neste primeiro momento), pois há muitas (não tantas quanto se pensa) palavras inventadas pelo autor. Mas repare que pelo contexto é quase sempre possível entender o significado de determinada palavra. Aqui no curso eu fornecerei o significado das palavras no momento da leitura.
6. Claro que é impossível não se identificar ao menos um pouquinho (ou muito) com Riobaldo, o narrador. Mas é necessário também desconfiar dele… Mais eu não digo pra não estragar as surpresas.
7. Terminou de ler? Gostou? Bacana. Agora é que vem o melhor da história: GSV é daquele tipo de livro que fica melhor a cada leitura. Experimente ler de novo. Porque, entre outras coisas, GSV é dotado de ambiguidade trágica e isso só se percebe na segunda leitura, na terceira… Aos poucos você não somente lê o livro, mas vai sendo lido por ele.
6 de setembro, NOVO curso LENDO Grande sertão: veredas
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