Por César-RLAS

“Não existe prazer maior que ficar firme sobre o vantajoso terreno da verdade.” 

Francis Bacon.

1-Introdução

A título de esclarecimento prévio importa referir que esta prancha é traçada nas condições possíveis a quem não é investigador especializado no assunto e que reside longe dos grandes centros e, por isso, tem dificuldade de acesso às fontes bibliográficas tradicionais. Não pretende, por isso, ser criadora de informação histórica e filosófica nova por o meu engenho e a impossibilidade de acesso a fontes originais não o permitirem, nem ser esse o seu objectivo. Daí que, embora tal não seja do agrado de muitas pessoas ligadas à investigação histórica, esta prancha tenha sido elaborada recorrendo a fontes em suporte digital, sobretudo as disponíveis na Internet, em português ou outras línguas europeias, sujeitando-as ao crivo do meu sentido crítico, visando um maior enriquecimento pessoal com base na reflexão sobre a informação que ao longo dos últimos anos fui recolhendo. 

Sentido crítico de quem considera que a Maçonaria como Ordem Universal deve ser o ponto de encontro dos homens e mulheres interessados, em plena liberdade de consciência, em questionar-se e reflectir sobre “ de onde viemos”, “o que somos ou como somos” e “o que queremos para o futuro”, não só no plano individual da construção do nosso aperfeiçoamento pessoal ou templo interior, mas também na construção e aperfeiçoamento do Templo Universal, que entendemos como a sociedade e o espaço terreno em que vivemos e trabalhamos.

Obviamente que essa reflexão não poderá deixar de ter em conta os contextos temporais, económicos e político-sociais em que a Ordem Maçónica se construiu e desenvolveu, sem o que se torna dificilmente inteligível a necessidade e importância do trabalho maçónico numa sociedade em mutação cada vez mais rápida, que podemos dizer estar hoje, com as novas tecnologias e formas de comunicação, bem próximo da “aldeia planetária” concebida por Marshal MacLuan. Sociedade que produz e disponibiliza mais informação num só jornal diário de uma grande metrópole do que se produzia no conjunto do Séc. XVIII, segundo os especialistas da comunicação e informação, com as consequências que daí advêm quando se pretende reflectir nos termos que atrás considerámos. E ainda em que em grande parte do mundo a escolarização de grande parte da população e a “democratização” do acesso à informação e conhecimento daí decorrente, conjugados com as novas formas facilitadoras de acesso a eles, que são bens de partilha e não bens de posse, geraram condições que obrigam a um grande esforço de reflexão sobre o que implica hoje ser Maçon, quer nos Graus Simbólicos, quer nos Altos Graus. 

Reflexão que não pode perder de vista, num Rito que pretende que cada grau seja um aprofundamento do aperfeiçoamento pessoal através da aprendizagem ritual sobre os “novos mistérios” de cada um deles, que o ritual dos mesmos não é mais que um instrumento de disciplina dos trabalhos em Loja e uma referência simbólica para marcar os passos do aperfeiçoamento individual e que grande conhecimento do mesmo não será a finalidade essencial do trabalho maçónico. Até porque essa perspectiva tornaria o Ritual, ou conjunto dos rituais dos sucessivos graus, numa forma de registo de “uma verdade revelada”, muito ao gosto dos “teosofistas”, e não contraditória com tradição Teísta original e datada do REAA, mas muito dificilmente compaginável com a liberdade de pensamento e consciência consagrada na Maçonaria Simbólica do GOL. 

2 – A “construção” do REAA e sua influência no desenho da simbologia e filosofia dos seus Graus 

Os estudiosos modernos da filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito (ou Aceite)[1], com os seus três Graus Simbólicos e os trinta Altos Graus que lhes sucedem, costumam defini-lo como um rito em que se combinam os elementos simbólicos mais tradicionais com uma dinâmica de funcionamento expressiva que permite desenvolver, simultaneamente, um profundo sentido de fraternidade e um acurado sentido de análise racional que convida a entender a vida tanto com base num critério espiritual como num critério racional que se complementam e potenciam.

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