Tradução J. Filardo
Por Jean-Moïse Braitberg
Na Irlanda vai-se tanto de Maçonaria quanto de bebidas fortes. Se os maçons irlandeses reivindicam uma tradição mais antiga, ou até mesmo mais autêntica que a dos Ingleses, os apreciadores do malte reivindicam, eles também, um know-how mais antigo que aquele de seus amigos escoceses.

A Irlanda foi cristianizada a partir do século V pelo legendário São Patrício, um inglês romanizado vendido como escravo a um druida que o teria empregado como pastor. Não fica muito claro como ele teria tido tempo de viajar ao Egito para dali trazer um alambique, mas no entanto é isso que se conta uma história um pouco ambígua, ou como se queira, completamente alcoolizada.
O que é um pouco mais certo é que os Irlandeses conheceram bem cedo o princípio da destilação. Eles o conheceram antes dos Escoceses, como alegam?
Prova não existe. Durante muitos séculos foram os monges que dominaram a destilação, menos para extrair bebidas alcoólicas que para extrair elixires de plantas destinadas à farmacopeia.
É apenas no século XVI que se começa a destilar em grande escala, primeiro do vinho importado, depois de cereais maltados e fermentados. Esses álcoois eram indistintamente chamados de usci bethad, expressão que significava aquavita, ou aguardente. Depois de deformações sucessivas, a palavra, ao longo dos séculos se transformou em Whisky, e depois em Whiskey.
Pouco a pouco, os Irlandeses se aperfeiçoavam na arte da destilação até o ponto que alguns, como a célebre família Hennessy se expatriaram para levar seu know-how à destilação do Conhaque.
Do século XVII até início do século XX, a história do Whiskey irlandês é, antes de mais nada, uma questão de impostos e, portanto, de contrabando, de destilarias clandestinas e de ataques contra os coletores de impostos identificados com os ocupantes ingleses.
Florescente no final do século XIX, a produção de álcool de cereal, componente muito importante da elaboração do gin britânico, cai a um nível muito baixo depois da independência da Irlanda em 1921. Durante muitos decênios, não existiram mais na Irlanda as grandes destilarias: aquela de Bushmills, na Irlanda do Norte que produzia um whiskey de mesmo nome; a destilaria Jameson, em Dublin, e a de Midleton, perto de Cork, que produzia as marcas Tulamore Dew, John Power e Paddy.
Foi só depois de 2.000 que apareceu uma quinzena de novas marcas produzidas em cerca de trinta destilarias. Os estilos de whiskey foram, assim, se diversificando.
Assim, encontram-se hoje na Irlanda e também na Escócia Single Malts elaborados a partir de cevada maltada destilada em uma única destilaria; grain whiskeys originários da mistura de cereais e blended whiskeys resultantes da mistura de álcoois vindos de diferentes destilarias.
O resto é uma questão de gosto, os whiskeys irlandeses não se diferenciam dos whiskys escoceses a não ser por um “e” a mais.
A serem consumidos, certamente, com moderação, acompanhados de um volume igual de água de fonte fresca, nunca gasosa, para acompanhar salmão e outros peixes defumados da Irlanda.
Publicado em FM – Franc Maçonnerie Magazine / MARÇO – ABRIL 2021