Pablo Antonio Iglesias Magalhães
O presente artigo tem como objetivo investigar a organização do Grande Oriente Brasileiro (1813-1817) na capitania da Bahia. Ignorado pela historiografia, que só reconhece o segundo Grande Oriente Brasileiro formado no Rio de Janeiro a partir de 1822, o primeiro Grande Oriente do Brasileiro foi instalado na cidade de Salvador e exerceu significativa influência nas estruturas políticas e culturais da colônia. Por iniciativa de Hipólito da Costa foi impresso o Compendio das Instrucções Maçonicas para uso do G:. O:. B:. (c. 1814), utilizado pelas lojas de pedreiros-livres da Bahia e de Pernambuco que, aqui revelado pela primeira vez, constitui-se na principal prova material da existência daquela Obediência maçônica, cujos associados podem ser identificados a partir de três documentos negligenciados pela historiografia maçônica e acadêmica.

Em 1827, José da Silva Lisboa, então Visconde de Cairú, publicou no Rio de Janeiro a Historia das principaes successos politicos do imperio do Brasil, descrevendo no capítulo VIII, Revolução na Cidade da Bahia, o que ocorreu após as notícias da Revolução do Porto chegarem a Salvador:
“Tendo as Praças do Porto e Lisboa activo Commercio com a da Bahia, as noticias de Revolução de Portugal chegarão em breve a esta Cidade, com as Proclamações e papelladas incendiarias do Douro e Téjo. Já os espiritos de seus habitantes se achavão exasperados com a nova do Despacho que ElRei havia feito em fim de Dezembro de 1820, nomeando o Conde de Villa-Flor para Governador da Capitania. A Cabala Maçonica se precipitou a fazer (quanto antes) a explosão da Cratéra Revolucionaria da predominante sociedade correspondente do Grande Oriente. Os Emissarios da antiga Metropole não perderão tempo em pôr no seu partido a Tropa do Paiz. […] esta Praça, sendo quasi huma Colonia do Minho, tomou vivo interesse na Revolução do Porto; […]. Os naturaes da Bahia seguirão o impulso dado pelos emissarios da Cabala Maçonica de Lisboa. Poserão-se em movimento os membros mais activos das Sociedades Secretas, assaz notorios na chronica escandalosa do Paiz, cujos nomes ora he desnecessario individuar, por honra de suas pessoas; He todavia impossivel não declarar alguns dos Corifêos, que forão a Causa de tantas desgraças da Nação Brasileira, e da propria Patria local, para execração da posteridade e são o Tenente Coronel Manoel Pedro de Freitas Guimarães, o Desembargador Luiz Manoel de Moura Cabral, e o Cirurgião Cypriano José Barata. […] A selecta Mestrança dos Pedreiros Livres em a noite de 9 de Fevereiro do corrente anno accordou no seu Club Jacobinico fazer acclamar a Constituição de Portugal pelo Corpo de Artilheria na Praça do Trem, contigua ao Forte de S. Pedro. Os principaes Chefes da Tropa da Guarnição da Praça estavão de mãos dadas com o dito Tenente Coronel Manoel Pedro, Commandante do Corpo de Artilheria (LISBOA, 1827:43-46).
O parágrafo acima revela a atuação das sociedades maçônicas da Bahia no início do processo de ruptura política que teve lugar na Bahia, após a Revolução do Porto. O Visconde de Cairú destaca a existência de um grupo de influentes indivíduos, civis e militares, que se articularam no seio da maçonaria em Salvador, entre 1821 e 1822. É notório que o referido cronista tornou-se um ferrenho inimigo das sociedades maçônicas, apesar de membros da sua família, incluindo seu filho Bento da Silva Lisboa, ter alcançado elevados cargos no seio da maçonaria brasileira, sendo Grão Mestre do Grande Oriente Brasileiro (do Passeio), já sob a Ordem Imperial (MAGALHÃES, 2013:789-824).
Continua em A Cabala Maçônica do Brasil
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