Thiago Werneck Gonçalves

 

Notas introdutórias sobre o periodismo maçônico oitocentista

O periodismo maçônico oitocentista deve ser compreendido a partir de sua inscrição em um fenômeno histórico de maior amplitude: o desenvolvimento, valorização e consolidação da imprensa no Brasil. O surgimento dos impressos no país está diretamente vinculado ao processo de transferência da corte portuguesa para o Brasil. Mudanças significativas ocorreram no rastro do estabelecimento da sede do reino no território de sua colônia americana, a exemplo da implantação da imprensa oficial, cujo objetivo era publicar os atos governamentais e divulgar informações convenientes à Coroa.

O primeiro jornal impresso no Brasil foi a Gazeta do Rio de Janeiro , lançado em setembro de 1808 pela Impressão Régia. No entanto, diversos autores atribuem a Hipólito da Costa e ao seu Correio Brasiliense  o marco fundamental de fundação da imprensa brasileira.[1]  De fato, o seu periódico foi direcionado, sobremaneira, aos assuntos relacionados a Portugal e suas colônias. De acordo com Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca:

Oposicionista e crítico, o periódico era feito na Inglaterra, mas discutia os problemas da Colônia e atravessava o oceano Atlântico para circular por aqui. Assim, no mesmo ano em que a Corte portuguesa transferiu-se para o Rio de Janeiro fugindo de Napoleão, o jornal idealizado e realizado por Hipólito da Costa, disponível a nobres e plebeus do Novo Mundo, estava longe de ser um beija-mão dos poderosos.[2]

Devido às suas características, o Correio Brasiliense  sofreu diversas perseguições das autoridades portuguesas, pois desde o decreto de 13 de maio de 1808, que instituiu a Impressão Régia, vigorava no país a “censura prévia”, responsável por “examinar os papéis e livros que se mandaram publicar, e de vigiar que nada se imprimisse contra a religião, governo e bons costumes”[3]. Assim, de 1808 a 1821, apenas os jornais oficiais ou aqueles que eram considerados inócuos pelo crivo da censura governamental circularam livremente no Brasil.

Contudo, a partir do contexto da Revolução do Porto – que teve como efeito significativo a publicação do decreto da liberdade de imprensa das Cortes de Lisboa – a cena impressa brasileira foi alterada, visto que em 1821 D. João VI dissolveu a censura prévia no país. Dentro dessa complexidade histórica, notamos um verdadeiro aumento da circulação de impressos no Brasil, especialmente no calor dos dilemas e debates que fomentaram o processo de separação política definitiva de Portugal.[4] No entendimento de Marco Morel, as atividades maçônicas se constituíram em um importante espaço de debate e coordenação de forças políticas que atuaram no movimento de 1822.[5]

 

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