Claudio Marcio Coelho ***

 

 

O presente artigo está fundamentado em pesquisa histórica e sociológica que realizamos durante o doutoramento em História Social das Relações Políticas. O principal desafio de nosso tema consiste no estudo histórico sobre a confluência entre cultura religiosa e cultura política no Nordeste brasileiro, especificamente, em Pernambuco: um dos maiores centros de atuação do movimento de Reação Católica no Brasil. Pesquisamos conflitos políticos e religiosos entre Jansenistas, Maçons e Jesuítas pela hegemonia no campo educacional no Nordeste, nas primeiras décadas do século XX, entre 1910 e 1930. Desta feita, destacamos os efeitos políticos da disputa de campo no catolicismo ilustrado e na produção intelectual do professor Alfredo Freyre, pai do escritor e cientista social brasileiro Gilberto Freyre, bem como a ação da Igreja Romana junto às famílias católicas tradicionais na região.

 Introdução

A relevância deste artigo justifica-se pela pesquisa no âmbito da história social da cultura e da teoria social brasileira, especialmente, ao discutirmos como a cultura religiosa incide na cultura política, provocando efeitos de poder e de controle na produção do conhecimento. O estudo da relação entre religião e política, na conjuntura analisada, contribui para o aprofundamento da pesquisa histórica sobre os embates entre maçons, jansenistas e jesuítas no auge do movimento de Reação Católica no Nordeste brasileiro. Porquanto foram realizados estudos históricos relevantes acerca desta questão no Sul e no Sudeste do Brasil, no entanto, carecemos de pesquisas sobre o Norte e o Nordeste. Neste sentido, escolhemos Pernambuco, pois a Reação Católica Pernambucana foi uma das mais atuantes e aguerridas na realização de atividades e projetos de recatolização e de reação contra maçons, protestantes, comunistas, judeus e espíritas: os então, nomeados inimigos da Igreja Romana. Outro aspecto importante diz respeito à atuação coercitiva da Igreja junto às famílias católicas tradicionais na região.

Para a realização de nossa pesquisa utilizamos perspectivas e modelos de construção do conhecimento histórico pertinentes ao tema: a história da leitura e o paradigma indiciário. Segundo Pallares-Burke (2005), a história da leitura é considerada “uma forma relativamente nova de história cultural, praticada por estudiosos como Roger Chartier e Robert Darnton”. A autora considera que:

O objetivo de tais estudos é recapitular a experiência de leitura num dado tempo e lugar, distinguindo modos diferentes de leitura – rápida ou vagarosa, extensiva ou intensiva, privada ou pública – bem como a diversidade de reações de indivíduos diferentes ou gerações diferentes de leitores do mesmo texto (Pallares-Burke, 2005, p. 33).

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