Tradução J. Filardo
–por Bernard Ollagnier
Quando o chip inserido em nosso pulso nos permite abrir as portas do nosso carro, congratulamo-nos com este progresso. Quando constatamos as turbulências das migrações, apelamos ao humanismo. Quando olhamos os massacres em nome de Deus ou de uma religião, nós choramos. Assim, passamos da alegria às lágrimas, sem estabelecer qualquer ligação entre estas três situações.
Que o Grão-Mestre da Grande Loja da França Philippe Charruel convoque os jovens a se interessar pela Maçonaria, que o Grão-Mestre do Grande Oriente da França Philippe Foussier em um texto poderoso proclame a resistência, como ele escreve, para combater as ideologias totalitárias ou que no jantar anual da Grande Loja das Cultura e da Espiritualidade, as conversas girem em torno da necessidade de trazer a espiritualidade ao centro dos debates na sociedade como tão bem se expressou a Grã-mestre Christine Sauvagnac, todos os irmãos e irmãs maçons sentem vagamente confusos que chegou o momento tomar a palavra.
Nós só podemos nos regozijar com este movimento fundado em uma tomada de consciência bem real, ainda que tarde a se exprimir. Na verdade, os trágicos acontecimentos, bem como o advento da civilização digital interpelam aqueles que militam em prol do universalismo, do humanismo e, em uma palavra, do ser humano: o respeito de uns pelos outros.
Torna-se difícil imaginar um mundo livre e fraterno fundado em sucessivas Declarações dos direitos humanos originarias da filosofia do Iluminismo. O digital tende a escravizar nossas ações e nossos espíritos, não só através do desenvolvimento dos GAFAM – sigla que representa os gigantes da Web, Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft -, mas também, e principalmente pelo desenvolvimento de múltiplas tecnologias que, gradualmente, tendem a ultrapassar a nossa liberdade de pensamento. Levaria muito tempo para mencioná-los todos aqui, mas basta apenas algumas palavras para ilustrar este aperto em nossas mentes e em nossos atos: homem aumentado, monitoramento remoto, identificação virtual, inteligência artificial … Todas as áreas da vida estão incluídas no fluxo digital. Ninguém escapa! E amanhã? Se cada um de nós pode se alegrar com o aumento da expectativa de vida ou o aumento do conforto, a questão permanece: seremos capazes e suficientemente armados para não deixar que os computadores assumam o poder do consciente e do inconsciente? Precisamos desativar o cenário do filme de 1977, apresentado na França em 1980, “Geração Proteus” de Donald Cammell, onde um computador se apaixona por uma mulher interpretada por Julie Christie e juntos dão à luz o bebê Proteus. A espiritualidade vai desaparecer em favor da materialidade?
Nos próximos anos, a Terra completará cerca de 7 bilhões de seres humanos; quantos terão acesso ao progresso digital, à esperança de vida mais longa, às riquezas produzidas e ao conhecimento? Este desafio é imenso. Muitos desviam o olhar para, como o bom senso popular justamente exprime: se empanturrar sem moderação. E o aquecimento global? Uma ideia das nações ricas! Massacre de curdos? Este não é um problema do nosso país! Apedrejamento de mulheres? Fome no Sudão? A liberdade de imprensa sob controle na Rússia? Crianças de 6 anos a trabalhar nas minas do Congo? Mas, finalmente, isso nada tem a ver comigo, com a meu tablete e meu chip, meu Prozac e meus videogames! Agora que os ideólogos assassinos de seres humanos, associado aos piores bandidos utilizam descaradamente as tecnologias digitais para servir seus interesses nauseantes. O contrabandista dá ordens aos refugiados através de seu telefone celular. O ditador bloqueia as ondas com um computador ad hoc e ameaça com a bomba atômica. O suicida explode uma escola enquanto fica protegido a dezenas de quilômetros. O explorador de crianças transfere seu dinheiro em um milésimo de segundo para dez lugares diferentes.
Perante esta situação de grande perturbação espiritual e diante do risco de perda da consciência moral humana, as potências, em sua grande maioria entendeu que o silêncio não era mais apropriado. Uma tomada de posição forte e exigente se impõe cada vez mais como uma evidência no caos dos espíritos. Responder aos medos, fazer viver a esperança. Mostrar um caminho de luz, força e beleza. Para este dever, os maçons estão se mobilizando dentro das potências ou em grupos como o FM & S, em nome do seu compromisso de servir a felicidade da humanidade. Este é o nosso caminho traçado.
Publicado em:
https://www.fm-mag.fr/article/actualite/universalisme-et-humanisme-1629
Zé Filardo, mano:
Uma vez mais escrevo para elogiar.
Sua tradução deste artigo é muito oportuna. Traz à luz um incômodo real dos que valorizam o contato humano, evidencia uma tendência de afastamento provocado por uma crescente ditadura digital.
Não exagero. A vida pode ser assemelhada a uma polia: quanto mais roldanas, menos força fará para suspender pesos. Em compensação, vai puxar mais corda.
Não falo como saudosismo, mas como alguém que se ressente da barreira invisível que afasta as pessoas do contato direto. Se facilita sobremaneira de um lado, vicia do outro. É uma nova forma de criar dependência. Pior ainda entre nós, com escasso conhecimento do passado e por conservar sua memória, consumimos o novo com sofreguidão, sem parar para análise e sem ter critérios para julgar.
Passo por dinossauro, mas não estou nem aí. Uso e-mail, porque nele posso expressar-me de forma coerente e racional. Não me movimento no WhatsApp ou no Facebook. Tenho mais o que fazer. Usados sem critério, criam dependência a ponto de transformar-se em elemento escravagista, tanto quanto o ópio, álcool ou o fumo. Se não nos conscientizarmos, serão o veículo para uma civilização onde o pensamento livre inexistirá, sufocado pela tutela.
Parabéns pelo oportunismo da mensagem.
Um grande abraço,
JG
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