Tradução José Filardo

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Quando estudamos a Revolução Francesa, encontramos como causa da eclosão da revolução em 1789 a famosa frase atribuída a Maria Antonieta diante da fome do povo. “Não tem pão, comam brioches.”

Mas, a falta de pão que desencadeou a revolta do povo não vinha de especulação dos nobres, como se costuma alegar, mas à falência seguida da colheita de trigo na Europa que semeou a fome e a revolta por todo o continente.

A falta de pão ocorreu quando o Vulcão Laki explodiu em 1783 e lançou na atmosfera sua fumaça e poeira que alterou o clima da região.  Vimos isso  quando o Vulcão Eyjafjallajokull explodiu em 2010.

A partir da erupção, as colheitas em toda Europa foram escassas e o descontentamento com a realeza aumentou e aliado a crise políticas culminou com a Revolução Francesa em 1789.

O verão de chuva ácida

Ferro fundido chovendo como bosta de vaca; icebergs em New Orleans. O clima de 1783 foi um caso extraordinário de mudança climática repentina impulsionada por gases atmosféricos

“Por volta do meio da manhã no dia de Pentecostes, 08 de junho de 1783, em tempo claro e calmo, uma fumaça negra de areia apareceu ao norte das montanhas. A nuvem era tão extensa que em pouco tempo já havia se espalhado sobre toda a área e era tão espessa que causou escuridão dentro das casas. Naquela noite, fortes terremotos e tremores ocorreram.”

Assim começa o relato de testemunha ocular de um dos episódios mais marcantes da mudança climática jamais vista. Ele foi escrito por um pastor luterano, Jon Steingrimsson, no distrito de Sida ao sul da Islândia. Às nove horas daquela manhã, a terra se abriu ao longo de uma fissura de 16 milhas chamada vulcão Laki. Durante os oito meses seguintes, em uma série de vastos arrotos, mais lava jorrou através da fissura do que de qualquer vulcão na história – 15 quilômetros cúbicos, o suficiente para enterrar toda a ilha de Manhattan até o topo do Rockefeller Centre.

Pentecostes é a festa cristã que comemora o aparecimento do Espírito Santo aos Apóstolos com o som, a Bíblia diz, “como de um vento impetuoso” e uma aparição “como que de fogo”. Mas não havia nada de metafórico ou festivo sobre os ventos e o fogo da erupção do Laki. Foi a maior calamidade da história da Islândia.

“O dilúvio de fogo”, Steingrimsson escreve, “corria com a velocidade de um grande rio inchado com água de degelo em um dia de primavera.” Era como se a maior siderúrgica do mundo tivesse começado a derramar metal fundido em toda a vizinhança. Quando o fluxo de lava correu para a água ou os pântanos, “as explosões foram tão altas, como se muitos canhão fossem disparados ao mesmo tempo.” Quando ela batia em um obstáculo, tais como campos de lava mais antigos, grandes gotas de metal fundido eram arremessadas no ar, respingando de volta à Terra, diz ele, “como bosta de vaca”. Mas, o dano para a Islândia foi apenas o início de uma trilha muito maior de destruição que viria a chegar a meio caminho ao redor do mundo, desde as montanhas Altai na Sibéria até o Golfo do México.

Existem dois tipos de erupções vulcânicas, explosivas e efusivas. O tipo bem conhecido é explosivo. Ele tem a maior força. Explosões desse tipo destruíram Pompeia e estrelas em filmes de Hollywood. Seu poder absoluto lança gases e cinzas vulcânicas, muito além, até a estratosfera (os níveis mais altos da atmosfera), onde eles absorvem radiação e esfriam a Terra, até que se dissipem após dois ou três anos. A erupção do Krakatoa provocou nevascas recordes ao redor do mundo.

Erupções vulcânicas efusivas são diferentes. Eles fervem com menos força, mas produzem maior volume de detritos. O Laki arrotou nuvens de gases vulcânicos 80 vezes maiores do que o Monte Santa Helena, embora o Monte Santa Helena tivesse maior poder explosivo

 

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