J. Filardo MM

O que aconteceu com a Maçonaria na Alemanha no Século XX precisa ser lembrado para que nunca mais nos esqueçamos o quão frágil ela é e quão frágeis nós, os maçons podemos ser diante de situações-limite.

Em primeiro lugar, para partirmos de uma informação correta, é preciso dizer com todas as letras que, contrariamente à lenda criada logo após o final da Segunda Guerra Mundial, nem todos os maçons sofreram perseguições pelos nazistas, ou foram enviados aos campos da morte. SOMENTE OS MAÇONS JUDEUS OU CIGANOS foram perseguidos e assassinados naqueles momentos difíceis, ou seja, foram perseguidos por serem judeus e ciganos, não por serem maçons.

Uma grande parte dos maçons alemães se comportou de maneira lamentável; simplesmente abandonaram rapidamente as lojas, renegaram a maçonaria por escrito e ingressaram no Partido Nazista mesmo considerando que o nazismo contrariasse os princípios maçônicos. Assim que terminou a guerra eles retornaram às lojas ─ esses ratos são os costumeiros “esperrtos” que seguem a Lei de Gerson e aproveitam o que há de melhor em tudo.

Os maçons alemães que não ingressaram no partido nazista muito provavelmente continuaram a se reunir secretamente durante todo período nazista. Os templos foram confiscados e vendidos, mas as lojas sobreviveram na clandestinidade.

Das grandes lojas alemãs, só uma, a Grande Loja Simbólica da Alemanha ofereceu alguma resistência ─ inútil, diga-se de passagem ─ pois acabaram tendo o mesmo destino que as outras grandes lojas  alemãs: foram fechadas e suas propriedades confiscadas pelos nazistas. Mas, caíram lutando e defendendo a Maçonaria.

Os nazistas faturam milhões de marcos com a venda dos bens da Maçonaria em um primeiro momento. As grandes lojas conservadoras (Antigas Prussianas) eram francamente antissemitas, proibindo o ingresso de judeus em suas lojas e tentaram ganhar as graças dos nazistas enfatizando esse aspecto lamentável. Mas, isso também não funcionou e suas propriedades foram igualmente confiscadas.

Os nazistas diferenciavam os alvos de sua perseguição, vinculando-a três grupos básicos: políticos, religiosos e raciais. O critério fundamental era: se o indivíduo faz parte de um grupo-alvo de perseguição, mas ele podia sair dele ou mudar de opinião, tudo bem. Ele podia prosseguir com sua vidinha. Era o caso dos maçons.  Bastava preencher um formulário de renúncia à Ordem, assiná-lo e pronto.  Mas isso não valia para os maçons judeus que foram sistematicamente enviados aos campos de extermínio e assassinados durante o Holocausto.

Testemunhas de Jeová também poderiam ser enquadradas pois eles se recusavam terminantemente a trair sua fé e aderir ao nazismo. Foram perseguidos e enviados a campos de concentração. Já os católicos e protestantes se compuseram com o regime e escaparam da perseguição.

Conforme coloca o historiador Yehuda Bauer:

A diferença mais importante entre vítimas de perseguição e vítimas de genocídio ou holocausto era que seu status como alvo não dependia de raça, biologia ou “sangue”. Para os comunistas o problema era político, para as Testemunhas de Jeová era religioso e para os maçons era ideológico; todos os três são voluntários e controláveis pela vítima. As vítimas do genocídio e do holocausto incluíam judeus, ciganos, eslavos, homossexuais e deficientes mentais: grupos cuja “ameaça” estava em seu sangue e poderiam, portanto, “manchar” o sangue de bons arianos alemães por meio de casamento e filhos.”  

Dessa forma, vemos que os nazistas adotaram uma abordagem objetiva da Maçonaria enquanto instituição e dos maçons enquanto cidadãos.  Para eles, a Maçonaria como instituição não tinha lugar no mundo nazista, por sua natureza internacionalista e judaica. Sendo uma herança da Grande Loja de Londres e da Maçonaria Francesa, os nazistas receavam que os maçons trabalhassem contra o nazismo, da mesma forma com que eles acusavam a Maçonaria de ter contribuído para a derrota alemã na Primeira Grande Guerra e de ser essencialmente uma organização que abrigava um grande número de judeus em seus quadros.

Muitos de seus membros não-judeus foram absorvidos pelo nazismo, vez que eram profissionais necessários ao desenvolvimento da Alemanha nazista e estavam dispostos a renegar a Maçonaria ou não tinha alternativa diante de uma convocação dos nazistas. O que foi realmente lamentável foi a facilidade com que alguns maçons renegaram a Ordem, visto que na realidade tinham a mesma ideologia e aprovavam os objetivos dos nazistas. “Estavam maçons” porque pertencer à Maçonaria lhes conferia importância e lhes proporcionava vantagens sociais e até mesmo materiais

Nas forças armadas, inicialmente somente ex-maçons aprendizes eram aceitos caso quisessem lutar. Mais tarde também Companheiros eram aceitos. Os mestres maçons e maçons que havia prosseguido na estrutura dos Altos Graus, por outro lado, estavam impedidos de ingressar nas forças armadas como oficiais e líderes.  Os nazistas receavam que os maçons fraternizassem com o inimigo, o que havia acontecido muito frequentemente durante a Primeira Guerra Mundial, quando eram negociadas tréguas em batalhas para que maçons de ambos os lados se reunissem em loja.  Os nazistas viam isso como um grande perigo e uma traição.  Mas, houve episódios lamentáveis envolvendo maçons renegados que conseguiram ingressar nas SS:
Um ex-maçom, que foi até mestre da loja zur könglichen Eiche em Hamlin, deixou sua loja, ingressou nas SS e voltou à frente do grupo SS encarregado de fechar à força a mesma loja à qual ele havia pertencido anteriormente.”[1]

Por outro lado, o alistamento como soldados não sofria restrição, mas como a maioria dos maçons era de meia idade, o ingresso nas forças armadas somente veio efetivamente ocorrer no final da guerra, quando velhos, mulheres e até crianças alemães foram convocados para o front independente de suas condições pessoais.

Toda essa história nos oferece um quadro lamentável da Maçonaria alemã durante o regime nazista, pois a “maioria dos maçons alemães agiu sob as mesmas motivações de sua decisão de entrar nas lojas: interesse próprio e oportunismo. Desde a decisão de ingressar nas lojas, depois abandonar as lojas pelo Partido Nazista e voltar às lojas após o fim da guerra, a ambição, o oportunismo e o interesse próprio desempenharam um papel primordial. Eles colaboraram com o Terceiro Reich porque quiseram e porque puderam.”[2]

E quem diria que no século XXI, depois de todos esses acontecimentos, maçons voltariam a apoiar um governo de extrema direita, igualmente divorciado dos princípios que regem a Ordem Maçônica?

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[1] Neuberger, Winkelmass e Hakenkreuz, 258.

[2] Thomas, Christopher  In, Compasso, Esquadro e Suástica: A Maçonaria no Terceiro Reich – 2011


Quem não leu, mas gostaria de ter o texto da Tese de Doutoramento do Prof. Christopher Campbell Thomas que publicamos em capítulos, pode baixa-la no link abaixo:

TEXTO CONSOLIDADO MAÇONARIA NO TERCEIRO REICH


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