Tradução J. Filardo

Nos últimos cinco anos, tive a honra de representar a União Europeia, como presidente da assembleia de chefes de seus estados e governos. Nesta qualidade, eu também venho às Nações Unidas.

Por favor, permitam-me – em meu discurso de hoje, meu último aqui – não elaborar detalhadamente nossos desafios e começar com uma reflexão mais geral inspirada nas palavras ditas aqui há dois dias, palavras que sugerem um conflito imanente entre patriotismo e globalismo. Eu não concordo com esta opinião.  Ela é falsa e perigosa, mesmo que tenha muitos seguidores e propagadores poderosos. A própria ideia das Nações Unidas, assim como a da União Européia é, de fadto, uma tentativa heroica de superar tal pensamento. O patriotismo do século XXI também deve ter uma dimensão global, para não se tornar, como muitas vezes foi o caso, um egoísmo nacional comum.  A história de nossas nações mostra como é fácil transformar o amor da pátria em ódio aos vizinhos.  Quão fácil é transformar o orgulho pela própria cultura em desprezo pela cultura de estrangeiros. Quão fácil é usar os slogans da própria soberania contra a soberania dos outros.

Eu sei que a palavra globalismo não soa atraente. Pessoalmente, prefiro a palavra solidariedade, tão importante para mim e para minha nação.  No meu vocabulário político, globalismo e solidariedade significam a mesma coisa.  E não estou falando de alguma ideologia ingênua ou linguística abstrata, mas de desafios concretos e de uma chance de soluções pragmáticas.

Eu amo Gdańsk, a cidade de onde venho.  Eu amo a Polônia, meu país.  E eu amo a Europa.  Mas mesmo que vivamos na cidade europeia mais bonita e moderna, nossa vida pode mudar para o inferno, se não encontrarmos aqui nas Nações Unidas soluções adequadas para ameaças globais, tais como conflitos armados e terrorismo, proliferação nuclear ou a destruição do nosso ambiente. Sem a prontidão para estabelecer regras em nível global e, posteriormente, respeitá-las consistentemente, as comunidades, nações e estados locais e até continentes permanecerão impotentes diante dessas ameaças.

Vamos nos concentrar por um tempo em uma das ameaças, a destruição do meio ambiente, que esteve no centro das atenções nos últimos dias, aqui em Nova York.  Não tenho dúvidas de que estamos em uma emergência ambiental.  Microplásticos estão se espalhando em nossos oceanos.  Até duzentas espécies são extintas a cada dia.  Eu próprio testemunhei o colapso das paredes de gelo na Groenlândia e as geleiras derretidas em Pamir, no Tajiquistão.  E acabamos de discutir aqui a crise na Amazônia, como fizemos nas últimas décadas, infelizmente com resultados limitados.  Estamos nos aproximando rapidamente de um ponto, além do qual só conseguiremos mitigar as mudanças climáticas em vez de revertê-las.

A União Europeia continuará a fazer todo o possível para enfrentar esta ameaça. A Europa está mostrando liderança na implementação do Acordo de Paris e esperamos vencer a corrida para nos tornarmos o primeiro continente neutro em carbono do mundo. Somente em 2017, a UE e seus Estados-Membros gastaram 20 bilhões de euros ajudando os países em desenvolvimento a combater e se adaptar às mudanças climáticas.

Mas o ambiente natural do homem, que exige proteção, não são apenas os oceanos, o ar e as florestas.  É também a verdade na vida pública, liberdade, Estado de direito e solidariedade internacional.

Para proteger a verdade, não basta acusar outras pessoas de promover notícias falsas.  Falando francamente, seria o suficiente simplesmente parar de mentir. Hoje, muitos políticos usam a mentira como um método permanente para manter o poder.

Para proteger a liberdade, não basta falar sobre isso em discursos.  Você tem que defender os direitos de um indivíduo em todos os lugares e todos os dias.  Você tem que defender a liberdade de expressão e uma imprensa livre.  E você tem que parar de flertar com ditadores e regimes autoritários.

Para proteger o estado de direito, você realmente precisa aceitar que a lei deve estar acima do poder, não ao seu alvedrio. Se você quer seguir os princípios da solidariedade internacional, sempre precisa ajudar os mais fracos, se eles são atacados pelos mais fortes e pelos cruéis.  Como no caso da Ucrânia, por exemplo.

Se os poderosos do nosso mundo não entenderem isso, eles entrarão na história, não como líderes, mas como falsos líderes. E com toda razão.

 

Muito obrigado.