Fernando da Silva Magalhães

 

Introdução

O papel do crítico é ao mesmo tempo reduzido e ampliado. Ampliado na medida em que todo mundo se pode tornar crítico. Este foi o sonho das Luzes e, talvez o do fim do século XVII: Por que todo leitor não poderia ser capaz de criticar as obras, fora das instituições oficiais, das academias, dos sábios? É a querela dos Antigos e dos Modernos, na França, no fim do século XVII, que faz nascer a ideia segundo a qual cada leitor dispõe de uma legitimidade própria, do direito a um julgamento pessoal (CHARTIER, 1999, p. 17).

O Rito Moderno ou Francês foi criado em Paris no ano de 1761, instituído em 24 de Dezembro de 1772 e proclamado em 9 de Março de 1773, pelo Grande Oriente de França, sendo instalado solenemente em 22 de Outubro de 1773. Na sua fundação, adoptava as primeiras Constituições de Anderson, de 1723, e compunha-se apenas dos graus simbólicos de aprendiz, companheiro e mestre.

À época, a Maçonaria, em transição para o modelo especulativo, passava por um período de instabilidade. A cada instante, criavam-se novos ritos e graus, sob influência das monarquias e os seus múltiplos misticismos, que satisfaziam a vaidade dos que procuravam esta ordem e desfiguravam a sua essência. Desta forma, o Grande Oriente de França na sua génese, busca harmonizar as múltiplas doutrinas num único corpo filosófico; razão pela qual criou, em 1773, uma comissão de maçons para estudar os sistemas existentes e elaborar um rito composto do menor número possível de graus, mas que, ainda assim, contivesse no seu bojo a essência original dos ensinamentos maçónicos. Esta comissão, após três anos de estudos, recomendou manter apenas os três graus simbólicos, o que causou oposição. O Rito de Perfeição ou de Heredom, por exemplo, já contava à época, com 25 graus. Diante desta reacção, em 1776, cria-se uma nova comissão com o mesmo fim, também malsucedida. O Grande Oriente instala então, em 1782, uma Câmara de Graus, cujas conclusões são acolhidas. Assim, em 1784, sob a coordenação de Roettiers de Montaleau [1], criam-se os Regulamentos e os Estatutos do Grande Capítulo Geral de França. Este Grande Capítulo redige um Ritual próprio agrupando os diversos graus em sete, com a administração dos Capítulos que trabalhariam nos graus acima do terceiro ficando confiada a esta Câmara. Surge assim, em 1786, o original Rito Francês ou Moderno com sete graus, sendo os três primeiro simbólicos, também chamados de “azuis”, e os quatro graus (ou Ordens) subsequentes, filosóficos (GAGLIANONE, 2014).

 

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