J. Filardo – Bibliotecário

Os estudos mais recentes sobre as origens da Maçonaria as localizam na Escócia, evolução da prática de um Rito denominado Heredom que teria sido praticado na Loja de Kilwinning desde tempos imemoriais.
No século XVII, inspirados pelos Manifestos Rosacruzes, escoceses de diferentes origens, entre elas os míticos Reis Negros escoceses e a colônia judaica escocesa resultante dos pogroms ingleses de 1189, 1190 e 1290 (o mais importante, sob Edward I) que teve importância fundamental na invenção do rito dessa novel instituição se congregaram ao redor do Rei (de ascendência africana – Os Reis Gipsy) James Stuart VI da Escócia (católica) que pela primeira vez ocupava também o trono inglês como James I da Inglaterra (protestante).
Esses acontecimentos resultam da eclosão do Renascimento Escocês, parte do Renascimento do Norte da Europa que era a periferia do mundo conhecido, o que provocou um enorme atraso na chegada das ideias renascentistas àquelas plagas longínquas.
A Escócia no século XVII era dividida entre católicos e protestantes presbiterianos ao ponto de eclodir uma guerra sob o Rei Charles I. Depois disso, conforme a maior ou menor influência sobre os negócios de estado e as conveniências estratégicas, os monarcas eram católicos ou protestantes e, muitas vezes tinham uma religião pública por imposição das leis e uma religião privada que vinha da descendência familiar.
Nesse ambiente, a partir de 1583, James VI assume o controle do reino, depois de uma vida agitada durante a qual a Escócia fora governada por seus tutores e conseguiu estabelecer uma relativa paz com os Lords escoceses, e preparou o terreno para assumir o trono da Inglaterra, como herdeiro da famosa Rainha Elizabeth I.
Os tempos eram muito perigosos, considerando os interesses dinásticos e religiosos da Escócia, Irlanda e Inglaterra e o novo Rei precisava de suporte e proteção.
Esse suporte e proteção surgiu na forma de uma fraternidade de seus partidários que se reuniam secretamente nas lojas de pedreiros operativos, onde funcionava um verdadeiro serviço secreto, central de negociações de apoios e que seguiam um ritual calcado sobre o Rito denominado Heredom, que teria sido praticado desde o Século XII pela Loja de Kilwinning.
Esse ritual se afastava tanto da igreja católica quanto da igreja protestante e que se baseava nos manifestos rosacruzes e seu conteúdo alquímico, cabalístico e hermético revelados pelo Renascimento Italiano ocorrido nos séculos anteriores e revividos nesse renascimento tardio ocorrido no norte da Europa, incluindo a Escócia.
Essas lojas especulativas de “rosacruzes radicais” funcionavam nas lojas operativas e adotavam o costume do segredo daquelas fraternidades de pedreiros operativos e posteriormente adotaram uma simbologia calcada nas suas ferramentas, usos e costumes que se juntaram ao simbolismo alquímico e cabalístico para formar o que viria a ser conhecido como Maçonaria especulativa.
As lojas espalharam-se pelos três reinos que viriam a compor o Reino Unido através de lojas militares em regimentos e lojas de pedreiros que vagavam pelo reino, inclusive na Inglaterra onde o novo Rei enfrentaria resistências ao fato de ser escocês e desconfianças relacionadas com suas crenças religiosas.
Essas lojas apoiavam a Casa de Stuart durante os reinados de James I, Charles I, Charles II e James II. Este último, tendo se convertido ao protestantismo por conveniência, meteu os pés pelas mãos em matéria político-religiosa e pisou nos calos dos protestantes que reagiram violentamente depondo-o pedindo a ajuda de William de Orange, um holandês casado com a filha de James II, Mary que era a pretendente ao trono.
Com o exílio de James II na França, William de Orange assumiu o trono inglês em 1689 como William III reinando até 1702 quando foi substituído por Anne que era Stuart, mas era protestante. Ela reinará até 1714 quando, por falta de herdeiros Stuart ela é sucedida por George I, um primo distante que pertencia à casa de Hanover (alemã).
Ocorre que as lojas escocesas, ou jacobitas vinham apoiando os Stuarts e diante da ocupação do trono inglês por um estrangeiro elas apoiaram uma conspiração para derrubar aquele rei com a ajuda da Suécia, onde haviam conseguido introduzir a maçonaria à qual aderiu o rei sueco. A conspiração falhou, mas com isso os ingleses decidiram que a maçonaria jacobita ou escocesa era um perigo muito grande e fundaram a Grande Loja de Londres para controlar as lojas e disciplinar a fundação de novas lojas no reino.
Recorreram à Royal Society a que pertencia o pastor protestante, Jean Desagullier que foi encarregado de estruturar a nova instituição. Desagulliers convocou outro pastor protestante, o escocês James Anderson, filho de maçom, para redigir as Constituições e Regulamentos da Grande Loja que foi anunciada em 1717. A constituição foi publicada em 1723 quando foi eleito o primeiro grão-mestre entre os nobres britânicos.
As Constituições de 1717 se basearam nas tradições orais da Maçonaria Operativa e seus criadores agiram como se a Maçonaria Especulativa tivesse sido inventada por eles e não pelos escoceses um século antes.
Há que se reconhecer, contudo, que a nova maçonaria por eles inventada, ao sofrer a influência dos Iluministas da Royal Society e, para barrar o acesso de católicos às suas lojas, definiu em seu Artigo Primeiro a adoção de um tipo de religião e de sociabilidade que nunca seria aceito por católicos.
A partir desse momento, as lojas escocesas foram dissolvidas ou incorporadas à Grande Loja que passou a vender cartas constitutivas para novas lojas e cobrar direitos das lojas novas e já existentes. Desagulliers redigiu os rituais, estabeleceu a estrutura de Aprendizes, Companheiros e o Mestre da Loja.
Mas, a mudança efetuada por Desagulliers deturpava completamente a natureza da maçonaria tradicional criada na Escócia e praticada por todo o Reino Unido, na medida em que a definição de maçonaria continha a exigência da crença em uma ser supremo, que se presumia ser o D’us de Abrahão e exigia o uso da Bíblia como Livro da Lei.
O resultado foi o surgimento de uma segunda Grande Loja dos Maçons Antigos que defendia a maçonaria tradicional contra as novidades daqueles que passaram a ser chamados de Modernos.
Este era o quadro histórico em que se desenvolveu a Maçonaria Inglesa. Mas, a Maçonaria Original, fundada na Escócia no século anterior continuava a existir a partir da queda do Rei James II Stuart em 1698 e seu exílio na França.
Quando os nobres e a igreja da Inglaterra traiçoeiramente chamaram William de Orange para governar a Inglaterra, James II tentou resistir e mandou um exército contra ele que se aproximava da Inglaterra com uma esquadra armada até os dentes. Entretanto, suas tropas se acovardaram e debandaram e ele não teve alternativa senão partir para a França com toda a sua corte, inclusive as lojas maçônicas da corte, a convite de seu primo Luis XIV que apoiava a Escócia.
A corte no exílio passou a funcionar em Saint Germain-en-Laye, a 15 km de Versailles, onde também funcionava uma loja maçônica do Rito de Heredom. Nos anos seguintes, uma segunda loja foi fundada na qual começaram a ingressar franceses.
Durante o século XVIII a Maçonaria continuou a funcionar sem que se fizesse diferenciação entre o modo inglês e o modo Escocês ou um dos muitos modos inventados pelos franceses. Não havia a ideia de Rito, só se dizia que era maçonaria e os franceses adoraram o elitismo daquela nova moda dos ingleses, onde somente ricos e nobres podiam ser maçons e qualquer um podia inventar um grau e seu ritual e vender às lojas que se multiplicavam sem controle.
Os Mestres Escoceses continuaram a praticar o modo Escocês de Heredom e em 1732, surge em Bordeaux pelas mãos de Etienne Morin o Rito de Perfeição baseado no Rito de Heredom, com 25 graus e que seria exportado para a América no final do século. Nos Estados Unidos ele sofreria uma mudança, com o acréscimo de mais sete graus e se transformou no Rito Escocês Antigo e Aceito conforme conhecemos atualmente.
Nesse período que vai da fundação da Grande Loja de Londres até a Revolução Francesa (quando a maçonaria é proscrita e passa à clandestinidade, visto que seus membros eram aristocratas) outros ritos foram inventados para satisfazer a fantasia dos maçons franceses ou dos maçons alemães. Na década de 1780, Friedrich Schröeder estuda a Maçonaria dos ingleses, dos escoceses e dos franceses, retira o essencial daqueles ritos e compila um ritual que será usado pela Maçonaria alemã.
Depois da Revolução Francesa a Grande Loja da França se funde ao Grande Oriente de França e o irmão Roëttiers de Montaleau compila os rituais franceses e ao criar o Rito Francês procurará ressuscitar o espírito da maçonaria iluminista de 1717 na Inglaterra, em seu Artigo Primeiro das Constituições de Anderson. Daí o rito francês ser conhecido como Rito Francês ou dos Modernos
Entre os ritos inventados nesse período de exuberância criativa dos maçons franceses surge o Rito Adonhiramita do qual nosso irmão Sérgio Emilião publicou a história suscinta no blog FREEMASON.PT.
Para ler o post original, clique em BREVE HISTÓRIA DO RITO ADONHIRAMITA
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