J.Filardo
Republicado por sua atualidade
A campanha eleitoral do ódio de 2014 e novamente em 2018, no Brasil, nos leva à reflexão sobre posições ideológicas em todos os campos, inclusive no universo da Ordem Maçônica.
As redes sociais encheram-se de manifestações raivosas vazadas em expressões inadequadas para um cidadão civilizado e muito menos para um maçom que se tem como esclarecido e selecionado como melhor entre os melhores.
O que se espera de um maçom?
As respostas “dominar minhas paixões”, “desbastar a pedra bruta”, “ajudar a humanidade” soam absolutamente vazias diante das reações testemunhadas nessas campanhas eleitorais. Perfilando-se com as forças mais retrógradas e reacionárias e com candidatos fascistas, os maçons brasileiros diminuíram a Maçonaria a uma facção e estiolaram sua universalidade, o que é lamentável.
Mas, quem estuda a história da humanidade em geral e da maçonaria em particular não se surpreende, visto que suas origens determinam sua trajetória atual.
Rememoremos.
A Maçonaria foi uma franquia em forma de clube inventada em 1717 pelos iluministas membros da Royal Society de Londres, que encomendaram aos pastores Anderson e Desagullier uma formatação adequada de Grande Loja que se arvorava em central consolidadora e autoridade única para a emissão (onerosa) de cartas constitutivas e cobrança de taxas dos franqueados. Uma iniciativa que tinha razões de Estado, visto que o Establishment da época precisava de uma linha de suporte às pretensões do pretendente protestante que tinha menos direito ao trono inglês que o pretendente católico escocês James Stuart.
Sendo fruto das cabeças iluminadas que foi, era uma invenção genial no tratamento inovador da abordagem política e religiosa, totalmente destoante do espírito medieval vigente. Em seu papel de suporte ao status quo, assumiu o caráter conservador (propondo a volta de uma instituição que não tinha mais lugar – a guilda), ela propunha como objetivo o aperfeiçoamento pessoal através de uma ascensão aos degraus da hierarquia, uma convivialidade combinada com networking (oferecia ao homem comum, a possibilidade de privar da companhia dos nobres) e preconizava a beneficência interna corporis e também voltada para a comunidade. Instrumentalizada como ferramenta de ponta no imperialismo britânico, viu-se difundida pelos quatro cantos da terra, onde alcançava a mão pesada do colonialismo. Inserida em um ambiente onde religião e política não se distinguiam, preconizavam a proibição da discussão desses dois assuntos.
Contemporaneamente, surge o Rito Escocês, uma criação francesa inventada para atender à corte escocesa exilada na França que tinha como característica, diferentemente da Maçonaria autêntica, ou seja, baseada na instituição das guildas de pedreiros, uma mitologia de origem diferente da mitologia inventada para o Craft na Inglaterra. O Rito Escocês afirmava ter sua origem nos cavaleiros templários que retornaram de Jerusalém. Essa ordem de cavalaria também se apropria dos graus simbólicos do Craft e representa como ele uma vertente conservadora.
Também na França, fruto do espírito esclarecido dos franceses, a Maçonaria é reinventada, resgatando os valores da franquia original de 1717, principalmente no que se refere à religião dos maçons. Todavia, diferentemente da abordagem endógama e conservadora do Craft inglês, a Maçonaria francesa adota o ideário da revolução e se arvora em defensora do secularismo de estado e dos valores da República francesa. Surge uma Maçonaria voltada para fora e que tem um papel progressista na sociedade.
Ficaram assim bem divididos os dois campos: os ingleses preconizando a Maçonaria Conservadora e os Franceses preconizando a Maçonaria progressista que evoluirá até se transformar na Maçonaria Liberal que temos atualmente na França.
Abaixo do equador a situação se complica.
A Maçonaria surge com DNA francês, combativa, interventora e protagonista. Mas, ao mesmo tempo já abrigava em si as forças retrógradas e conservadoras, representadas pelos Andradas. Estes lutam contra a vontade republicana de Gonçalves Ledo até fazer valer sua força. E desde então a Ordem no Brasil convive com essa herança híbrida: uma estrutura que se quer neutra, onde a discussão política é proibida e que, ao mesmo tempo, atua politicamente na sociedade, quase como um “shadow cabinet” nas comunidades onde se insere. Mas sempre com um viés conservador.
As obediências transformam-se em “one-stop-shop” onde o freguês pode encontrar o modelito de maçonaria que quiser: escocês, templário, mais religioso, menos religioso, com medalhas, sem medalhas. Com isso, diferentemente da franqueadora inglesa, perdem o foco e transformam-se em instituições fracionadas e ingovernáveis, prejudicando o posicionamento em momentos históricos cruciais.
Nesses ano de 2015, 2016, 2017 e 2018 no Brasil, testemunhamos manifestações de maçons absolutamente incompreensíveis à luz do ideário teórico da maçonaria. Maçons cerraram fileiras com grupos desprezíveis que apresentavam reivindicações vergonhosas até mesmo para um cidadão comum.
Testemunhamos algo que jamais aconteceria na França, por exemplo, onde a Maçonaria vai às ruas e se manifesta pela ordem constitucional do país e jamais contra os ideais da República.
A Maçonaria deve ser contra a corrupção? Claro, mas essa oposição deve levar em conta todo tipo de corrupção, de governantes da esquerda e da direita; de juristas conservadores e liberais. Não pode ser seletiva nem pode ser usada como cortina de fumaça para ocultar um posicionamento político que não se tem a coragem de declarar.
A maçonaria conservadora impede a discussão em loja e o aperfeiçoamento intelectual e político dos irmãos. Limita-se à prática limitada do ritual e ao networking consequente da condição de maçom.
A maçonaria progressista no Brasil é a minoria da minoria e não tem a menor condição de influenciar os acontecimentos tanto interna corporis quanto na sociedade.
O resultado é a inércia, a paralisia e a frustração das expectativas dos candidatos e o encolhimento da instituição.
(Publicado inicialmente em 2015)
Eu me considero um maçom progressista, ou pelo menos me esforço em ser um. Sendo essa uma premissa da Ordem, fiquei abismado com o conservadorismo – e comportamentos profanos, para dizer o mínimo – presente nas Lojas. Mas, tenhamos bom ânimo! Apesar de sermos poucos em número, que estejamos presentes, firmes, e sempre dispostos a defender a Maçonaria, mesmo daqueles que falsamente prometeram honrá-la.
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Realmente. Alguns irmãos são legalistas ao extremo! ao inves de entender o “espírito” da coisa, se apegam as letras. Ao invés de entender o que os símbolos pretendem nos passar, os entendem na literalidade. Veja o caso das 3 luzes emblemáticas, por que o comp.’. significa simbolicamente a justa medida de nossos atos, o esq.’. Significa simbolicamente a conduta irrepreensível que o maçom sempre deverá manter perante a sociedade, pautando todos os seus atos e decisões dentro da mais absoluta retidão e eqüidade, mas o L.’. da L.’. tem que significar a biblia? ela nao deveria ser simbolica tambem? Representando o código moral e ético que cada um de nós respeita e segue? Seja ele um livro sagrado, a constituição da Ordem ou do País ou até mesmo um livro em branco significando sua consciencia?
Somente uma visão liberal e adogmática consegue ver as coisas como deveriam ser e não como estão!
Deveriam ver que ha espaço para todos na Ordem… homens, mulheres, ateus, crentes, esquerdas e direitas! A loja não representa o mundo? por que excluir pessoas do “mundo” que desejam ver a luz? não torná-las irmaos e irmas por causa do gênero, da orientaçao sexual, da escolha religiosa ou visao de politica? ao inves de aceitar quem tem o objetivo em comum de evoluir como ser humano e trabalhar para o progresso da humanidade e à gloria do GADU?
Realmente não entendo a maconaria conservadora.
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Excelente trabajo! Enhorabuena.
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Acho que hoje está havendo uma confusão entre virtudes e vícios. A ignorância e a grosseria se transformaram em algo que as pessoas tem orgulho e como forma de demonstrar força ao invés de sentir vergonha. Desejando conhecer sobre maçonaria me deparei com os valores divulgados pela fraternidade, como também sua ética e princípios. Não sou iniciado maçon apesar de almejar, mas por aprender esses princípios mesmo que “superficialmente” pude iniciar minha “Grande Obra”.
Sei que esses princípios estimulam o desenvolvimento das mais nobres virtudes humanas espelhadas no Dom Divino. Virtudes essas que na história fizeram os homens envergonharem-se de si mesmos por escravizarem outros seres humanos, por tratarem mulheres, suas companheiras, filhas e mães como simples objetos sem valor humano ou social, que fizeram os homens sentirem-se penosos por perseguir ou descriminar outros que buscavam inspiração divina mas por outros ritos e crenças. Que estimulavam a fraternidade humana pela compreensão de suas diferenças.
Fico me perguntando o que houve para as pessoas praticarem com orgulho aquilo que no passado era motivo de vergonha? Porque hoje empatia é tratado como sinal de fraqueza? Porque considerar o sofrimento como algo não natural a humanidade virou algo que seja rotulado politicamente. Sinceramente não tenho como explicar.
Até o debate se tornou algo que um precisa vencer o outro, dominar ou subjugar. Antes em uma conversa com alguém fraterno se não concorda-se com seu ponto de vista, no mínimo saia mais sábio por entender os pontos que levavam meu companheiro a tomar tal entendimento.
Sinceramente não sei o que motivou isso tudo.
Só desejo que as preciosas chamas que ainda resistem não se apaguem para que o mundo não seja dominado pela escuridão.
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Nunca a máxima se tornou tão evidente: “Filantropia é a consciência pesada da burguesia” Uma pseudo elite que sempre esteve ma exploração dos desafortunados, não irá mudar com palavras que lhe possam mexer com os brios. Ela muda quando os explorados começarem a entender o seu papel e cada um tem o seu papel. Alguns exploram e a maioria explorados. Alguns se mostram indignados, como se a exploração de outro ser humano justificasse…Não aceitam as palavras que desnudam o sorriso dos hipócritas. São os mesmos que se opõe a renda básica para todos, mas são capaz de retirar uma nota de 2 reis e depositar no tronco..Saem feliz aflitos pelo ágape e os papos vazios, isso quando nutridos pela fofoca infantil e destruidora do seu par, que também age igual. Se sentem com o dever cumprido. se alimentam das necessidades, que eles mesmos criam..E o salário que recebem se diz justo e merecido.
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A universalidade da Ordem parece ser um crime. Conservadorismo exarcebado tomando conta e impedindo a compreensão das diferentes realidades brasileiras.
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